A suinocultura cresce de maneira constante há pelo menos três décadas no Brasil, em termos de volume produzido, com expansão nas tecnologias empregadas ao longo da cadeia produtiva. A busca por aumento de produtividade vem ocorrendo de maneira natural no país, sendo um caminho sem volta, considerando que a demanda por proteínas de origem animal segue em expansão, tanto no Brasil como no exterior.
A maior produtividade, assim como uma boa estratégia em relação a estrutura de custos e práticas sustentáveis na granja se mostram necessários para a lucratividade em um mercado global cada vez mais exigente. O Brasil é atualmente o 4° maior produtor mundial de carne suína, atrás da China, União Europeia e Estados Unidos, posição que deve seguir inalterada ao longo da década, dada o tamanho geográfico e a consolidação destes players no mercado global.
Um dos grandes desafios para o setor é que a carne suína ocupa a terceira colocação na predileção dos brasileiros, atrás da carne bovina e do frango. Assim, em anos de grande expansão de produção, há a necessidade de ampliação contundente no nível de exportação, para ajuste da disponibilidade doméstica, caso contrário, os preços declinam no interior do país, aumentando o risco de prejuízos ao longo da cadeia. A disponibilidade doméstica é obtida do cálculo da produção + importações – as exportações. No caso do Brasil, as importações são irrisórias e não impactam o resultado do quadro.
O ciclo do suíno é relativamente longo, cerca de dois anos. Desse modo, decisões estruturais tomadas hoje resultarão em efeitos positivos ou adversos no médio e longo prazo apenas. O quadro de disponibilidade doméstica da carne suína e o custo de produção (principalmente da nutrição animal) são os fatores chaves nas tomadas de decisão e determinantes para a rentabilidade do setor.
Quanto ao custo da nutrição animal, os principais componentes são o milho e o farelo de soja. Assim, o acompanhamento de safra do Brasil e dos EUA, o movimento das commodities no mercado internacional, o câmbio, são variáveis que o setor suinícola precisa acompanhar de perto. Uma alta oferta de suínos e o alto preços dos insumos da ração é o pior dos mundos para a rentabilidade, a exemplo do que ocorreu entre 2021 e 2022. A compreensão do ciclo do mercado suíno, juntamente com o ciclo dos componentes do custo, é complexa. Conciliar esses elementos é essencial para manter margens operacionais em níveis saudáveis e sustentáveis.
Em momentos prósperos, de rentabilidade positiva do suíno, os produtores integrados e os independentes intensificam os investimentos na cadeia produtiva e os plantéis avançam. Em momento adversos, além da saída de suinocultores fragilizados da atividade, o ajuste da produção/oferta acontece via redução de matrizes, redução de nascimentos e controle do peso médio do suíno.
Os preços da cadeia suinícola no Brasil são bastante sensíveis ao comportamento da demanda interna/externa dentro de um ano. Tradicionalmente, a demanda doméstica é mais aquecida no segundo semestre, avançando a partir do inverno e atingindo seu ápice nas festividades de fim de ano. Assim, os preços do suíno vivo e dos cortes do atacado apresentam melhores preços neste período, enquanto na primeira metade do ano costumam sofrer, com demanda impactada pelo calor, endividamento das famílias e outros fatores sazonais. Logicamente, não são regras perfeitas, muitas outras variáveis podem impactar a dinâmica do mercado, como o cenário macroeconômico brasileiro, o nível da renda da população e preços das proteínas concorrentes.
A carne suína brasileira tem alta qualidade e preços atrativos, o que abre oportunidades tanto no mercado interno como externo. No interno, especialmente quando a carne bovina atinge patamares elevados, o que leva parte da população a migrar para opções mais acessíveis, aí que a carne suína tende a avançar. Em relação ao mercado internacional, o Brasil tende a ganhar uma parte de participação da União Europeia. O avanço de políticas ambientais, de regulações, exigências fitossanitárias e outros, devem levar a aumento de custo da carne suína na União Europeia, ou seja, impactando sua competitividade no mercado internacional, oportunidade para o Brasil avançar nas vendas ao longo dos próximos anos.
Quem são os grandes demandantes de carne suína no mundo? A resposta é o México e os países asiáticos, como Japão, China e Coreia do Sul. Os países africanos, europeus e do Oriente Médio também demandam pouco por questões culturais e de hábito.
A carne ganha em predileção nos países asiáticos, onde o Brasil já vem estreitando laços ao longo dos anos, tanto que já vem ocorrendo boas vendas para a China, Japão, Cingapura, Hong Kong e Filipinas. Há ainda oportunidades, como a Coreia do Sul e o México, que foge do eixo asiático. Vale destacar que muitos países asiáticos não contam com uma produção altamente profissional e volta e meia acabam sofrendo com problemas sanitários. Nesses momentos estes países intensificam as importações, como visto ao longo dos últimos anos.
Assim como qualquer mercado, o do suíno é desafiador. O setor precisa estar sempre antenado para que a produção doméstica não avance em magnitude superior do que a demanda doméstica seja capaz de absorver, assim como para o custo, que é determinado por fatores externos. Desse modo, os agentes da cadeia suinícola brasileira precisam estudar os mercados dia a dia, munidos com informações de qualidade.

*Allan Maia é analista da consultoria Safras & Mercado e economista com pós-graduação em Mercado Financeiro, com experiência de dez anos no setor carnes e enfoque no setor suinícola
O Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.